A Teoria Integrada de Bruce Rodger Marino

Uma Síntese Arminiana sobre o Pecado Original.

Introdução

A Teoria Integrada representa uma abordagem inovadora e sintetizadora no campo da hamartiologia, proposta pelo teólogo pentecostal Bruce Rodger Marino como uma terceira via arminiana para compreender o pecado original.

Apresentada em profundidade em sua obra “On the Propagation of Sin” (1985), publicada pelo Gordon-Conwell Theological Seminary, e posteriormente resumida no capítulo sobre Hamartiologia da “Teologia Sistemática – Uma Perspectiva Pentecostal” (CPAD), organizada por Stanley Horton, esta teoria busca harmonizar diferentes perspectivas teológicas sobre a transmissão do pecado.

Marino articula uma síntese cuidadosa entre a Teoria Arminiana-Wesleyana, a Teoria da Depravação e da Alienação Voluntária (TDAV) e elementos da Teoria Realista, conferindo ênfase especial ao federalismo wesleyano e fundamentando sua proposta no conceito de aliança pactual.

Fundamentos Teológicos e Estrutura da Teoria

O cerne da Teoria Integrada repousa na compreensão de que quando Adão pecou, não apenas se separou de Deus individualmente, mas gerou uma corrupção que afetou tanto sua natureza individual quanto sua natureza genérica. Esta corrupção, segundo Marino, foi naturalmente transmitida a todos os seus descendentes, tendo como base justa dessa transmissão a aliança adâmica, que também fundamenta a maldição sobre a terra.

A teoria estabelece uma distinção crucial entre herança da natureza e herança da culpa, sustentando que todos os seres humanos herdam a natureza pecaminosa de Adão, mas não sua culpa específica.

A dinâmica entre o “eu” individual e a graça preveniente constitui um elemento central da teoria. O “eu” individual não é considerado culpado pela corrupção herdada, embora sua capacidade de agradar a Deus esteja comprometida desde o nascimento. Ao alcançar a idade da responsabilidade moral, o indivíduo se encontra diante da tensão entre sua natureza corrompida e a graça preveniente divina, podendo escolher aceitá-la ou rejeitá-la. A rejeição voluntária desta graça implica culpa e separação de Deus, não pela herança adâmica em si, mas por decisão pessoal e consciente.

O Federalismo e a Interpretação de Romanos 5

Marino desenvolve uma interpretação particular de Romanos 5.12, argumentando que o texto ensina que todos pecaram, mas não que todos pecaram pessoalmente “em Adão”. O pecado original opera através da aliança federal, de forma análoga à justiça imputada por Cristo. Assim, a transgressão de Adão torna todos os seres humanos pecadores por natureza, mas não culpados até que pequem de fato através de atos pessoais. Esta abordagem federalista permite que a teoria evite tanto o semipelagianismo radical quanto o determinismo absoluto, mantendo que o ser humano, embora incapaz de crer sem graça, ainda pode reconhecer sua necessidade de salvação.

A teoria integrada enfatiza a importância fundamental das alianças no plano divino, citando exemplos bíblicos que confirmam a força obrigatória das alianças sobre gerações futuras, incluindo Gênesis 6.18, Êxodo 34.27, Jeremias 31.31 e Hebreus 8.6.

Particularmente significativo é Oséias 6.7, que Marino interpreta como uma referência direta à aliança com Adão. Esta fundamentação pactual permite que a teoria argumente que julgamentos coletivos nas Escrituras são baseados em alianças e não em mera descendência biológica, distinguindo entre julgamento hereditário genético e julgamento pactual.

Aplicações Específicas e Implicações Cristológicas

A aplicação da Teoria Integrada à cristologia oferece uma explicação para a impecabilidade de Cristo baseada em sua concepção sobrenatural. Segundo Marino, o Espírito Santo formou o “eu” humano de Jesus sem a corrupção herdada de Adão, precisamente porque Ele é o cabeça da nova aliança. Esta explicação preserva tanto a verdadeira humanidade de Cristo quanto sua natureza impecável, oferecendo uma alternativa às teorias que enfatizam apenas aspectos genéticos ou puramente sobrenaturais da encarnação.

A teoria também estabelece uma distinção importante entre diferentes tipos de julgamento bíblico. Textos como Deuteronômio 24.16 e Ezequiel 18.20 são interpretados como condenação do julgamento hereditário genético, mas não do julgamento pactual. Esta distinção permite que Marino explique eventos como o castigo sobre os israelitas por causa de Acã ou sobre os primogênitos do Egito como baseados em alianças específicas, não em mera descendência biológica. Tal interpretação oferece uma base teológica mais robusta para compreender a justiça divina em julgamentos coletivos.

Vantagens e Desafios da Síntese Proposta

A Teoria Integrada apresenta várias vantagens significativas em sua abordagem sintetizadora.

Primeiro, evita o semipelagianismo radical ao afirmar que a graça preveniente é indispensável para o exercício da fé, enquanto simultaneamente preserva a responsabilidade moral individual.

Segundo, oferece uma base mais justa para a transmissão do pecado através das alianças em vez da genética, argumentando que se Adão houvesse sido obediente, seus descendentes seriam abençoados, e que as consequências pactuais são comparáveis aos pecados por ignorância.

Terceiro, a teoria reconhece que mesmo a “injustiça” aparente do pecado herdado é superada pelo dom gratuito da salvação em Cristo, estendido universalmente.

Contudo, a complexidade da síntese proposta também apresenta desafios. A necessidade de equilibrar elementos de diferentes teorias pode gerar tensões internas que requerem elaboração cuidadosa.

Além disso, a dependência de conceitos pactuais exige uma hermenêutica consistente que pode não ser universalmente aceita. A distinção entre julgamento genético e pactual, embora teoricamente sólida, pode apresentar dificuldades práticas de aplicação em contextos pastorais e educacionais.

Conclusão

A Teoria Integrada de Bruce Rodger Marino representa uma contribuição significativa ao diálogo teológico sobre o pecado original, oferecendo uma síntese cuidadosa que busca preservar tanto a justiça divina quanto a responsabilidade humana.

Ao fundamentar a transmissão do pecado em bases pactuais em vez de meramente genéticas, a teoria proporciona um framework teológico que honra a complexidade das Escrituras e a diversidade de perspectivas históricas sobre a hamartiologia. Sua ênfase na graça preveniente e na responsabilidade individual, combinada com o reconhecimento da corrupção universal da natureza humana, oferece uma alternativa equilibrada às polarizações frequentemente encontradas nas discussões sobre o pecado original.

Embora apresente desafios em sua aplicação prática e complexidade conceitual, a Teoria Integrada constitui uma importante contribuição para a teologia arminiana contemporânea, demonstrando a possibilidade de sínteses teológicas que respeitam tanto a tradição histórica quanto as necessidades interpretativas contemporâneas. Sua influência na teologia pentecostal e sua presença em obras de referência indicam seu valor duradouro para o estudo sistemático da condição humana e da salvação divina.



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